Foi graças ao francês Louis Braille que, desde 1827, os cegos podem ler qualquer texto através do sistema que transcreve as palavras em uma série de pontos salientes dispostos em sequências lógicas no papel. Até mesmo a revista masculina Playboy chegou a fazer edições com textos em Braille entre os anos de 1970 e 1985.
Apesar disto, porém, o tato não permite que um cego possa apreciar uma história em quadrinhos. Pelo menos, até agora. É que, recentemente, foi criada a primeira história em quadrinhos para cegos.
O designer Philipp Meyer pensou em como fazer as pessoas que não enxergam aproveitarem uma história apenas com imagens. Ele percebeu que não seria possível somente traduzir os desenhos com pontos no lugar das linhas. Meyer decidiu, então, simplificar ao máximo, chegando a 24 quadros que contam a história da vida. Assim surgiu a história em quadrinhos Life que, na verdade, se trata de uma experiência tátil para deficientes visuais.
Na página do projeto é possível ver Meyer explicando o processo, com os primeiros rascunhos, os formatos finais e a criação do livro. Mas a intenção do autor é que Life possa ser apreciada com interatividade, tanto no papel quanto virtualmente. É possível, por exemplo, clicar nas imagens, mudar a aparência dos personagens e colocá-los em lugares diferentes.
O autor entrevistou pessoas cegas e, após a primeira entrevista, decobriu que simplesmente traduzir uma cena visual ou ambiente em uma imagem tátil não seria uma experiência agradável. Por isso, ele começou a pensar sobre os sentidos de uma pessoa comparando-os uns com os outros. Depois de muitas tentativas frustradas, finalmente, Meyer resolveu experimentar a narração através de formas simples, usando formas. Com e sem texto.
O autor faz questão de salientar que não sabe se esta é a melhor ou a única maneira de se criar uma história em quadrinhos tátil - e se isso realmente funciona para o leitor cego. De qualquer forma, ele fez o teste com pessoas cegas e percebeu que nenhuma delas teve qualquer dificuldade em ler as diferentes formas. No entanto, alguns dos voluntários não conectaram o título com a história. Então Meyer fez mais refinamentos, pois ele queria que o leitor interpretasse a história à sua maneira.
E deu certo. “Eu nunca vou esquecer o dia em que Michael (um dos voluntários) leu os quadrinhos táteis, pela primeira vez, passando por um meio que não existia antes”, disse Meyer. “Naquele dia eu percebi que é possível contar uma história - sem tinta, texto ou som - que ganha vida através da imaginação”, concluiu o autor que atualmente está produzindo alguns livros para bibliotecas e escolas para cegos.
(Fonte: Trip)