Cientistas da Universidade da Flórida descobriram que o ‘estar apaixonado’, além de borboletas no estômago, deixa o cérebro humano literalmente incapaz de prestar atenção em rostos muito bonitos.
Os pesquisadores fizeram um estudo para medir a atenção de 113 homens e mulheres, que foram expostos a fotos de pessoas lindas e outras nem tanto. Metade dos voluntários teve de escrever, antes da experiência, um pequeno texto falando sobre o amor que tinha por seu parceiro. A outra metade fez uma redação genérica, sobre felicidade. Em seguida, as fotos foram exibidas - com os olhos dos voluntários monitorados por um computador.
Quem tinha escrito (e pensado) em amor passou a ignorar as imagens de pessoas bonitas. Seus olhos simplesmente não se fixavam sobre as fotos. E essa rejeição só acontecia com as fotos de gente linda; com as imagens de pessoas comuns, não havia diferença.
Segundo os cientistas, isso acontece porque, quando as pessoas pensam em amor, seu neocórtex passa a repelir pessoas muito atraentes - que são tentadoras e têm mais chances de levar alguém a praticar adultério. Eles acreditam que o tal mecanismo antitraição tenha se desenvolvido, ao longo da evolução, para ajudar os machos a se manterem monogâmicos, pois existem “muitos benefícios evolutivos em uma relação monogâmica, e o organismo leva isso em conta", diz o psicólogo Jon Maner.
Mas... E amar o outro sem ver o rosto? Faz alguma diferença?
“Nenhuma”, segundo o casal de deficientes visuais Flávio Marcos Rodrigues, de 39 anos, e Gisele Caprara, de 27 anos, moradores de Itapetininga (SP). Eles garantem que amar não tem relação alguma com aparência e, sim, com o que a pessoa é em seu interior. Mesmo sem nunca terem se visto, os dois afirmam que já começaram a se amar desde a primeira conversa. “Podemos dizer que foi amor à primeira vista”, brinca o casal.
Os dois se conheceram em 2012, quando foram participar de uma competição esportiva para deficientes visuais em São José dos Campos (SP). Ele é natural de Angatuba (SP) e foi ao evento como atleta de goalball, esporte destinado aos deficientes visuais em que os atletas arremessam e defendem uma bola que faz barulho. Já Gisele, natural de Limeira (SP), disputou atletismo.
Os dois eram amigos em comum de outro casal deficiente visual. Em uma noite durante a competição, Flávio foi apresentado à Gisele pelo amigo. A intenção era apenas jogar dominó, mas acabou surgindo algo a mais entre os dois, diz ela.
Depois do encontro em São José dos Campos, os dois decidiram namorar, mas voltaram para suas cidades e o namoro foi à distância. Flávio conta que chegou a viajar poucas vezes até Limeira para ficar mais próximo da namorada. Contudo, meses depois de iniciarem o relacionamento, ele passou em um concurso público na Secretaria de Educação e mudou para Itapetininga para trabalhar como pedagogo.
Foi quando Flávio decidiu elevar o nível do relacionamento com Gisele para tê-la mais próxima.
Resultado: eles estão casados há dois anos e moram em uma casa no centro de Itapetininga (SP), onde, segundo os dois, dividem as alegrias, o romance, a amizade e as divergências da rotina. Na residência vive ainda a irmã de Flávio, a escriturária Danila Rodrigues, de 30 anos, que também é deficiente visual, além de um cachorro de estimação.
O casal ainda treina duas vezes por semana goalball em um projeto social de Itapetininga. Para Flávio, ter uma vida plena, apesar da deficiência, é algo normal: “Às vezes encontramos deficientes visuais frustrados com a vida, que têm raiva e tristeza. Normalmente isso acontece com quem perdeu a visão já adulto. No nosso caso, eu perdi a visão com três anos e Gisele aos 6 meses de idade. Então, nós não pensamos sobre como é enxergar. Adaptamos nossas vidas para viver bem. Brincamos, namoramos, ‘assistimos’ jogos do Corinthians juntos. Enfim, a gente faz de tudo para encontrar a felicidade e somos felizes”, ressalta.
(Fonte: G1)