O zika vírus pode provocar alterações significativas na retina e no nervo óptico dos bebês com microcefalia. A conclusão é de médicos da Fundação Altino Ventura, que realizam mutirões em Recife para prestar atendimento a recém-nascidos diagnosticados com a malformação. De acordo com pesquisadores do Ministério da Saúde, há fortes indícios de que o zika vírus provocou milhares de casos de microcefalia no país, já que o aumento do número de casos da doença está relacionado com a propagação do zika vírus, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti.
A pesquisa constatou que a microcefalia provoca problemas anatômicos nos olhos dos bebês.
“A estrutura cerebral neurológica estando comprometida, compromete também o nervo ótico e as camadas da retina”, explica Liana Ventura, presidente da fundação.
De um total de 79 recém-nascidos com microcefalia examinados pela fundação, 31 (40%) apresentaram indícios de infecção pelo zika vírus. E, nesse grupo, alguns bebês (o número não foi divulgado) sofreram alterações na retina e no nervo óptico. Também foram identificados casos de estrabismo e um de glaucoma.
— Essas alterações anatômicas comprometem de forma importante a função visual desses recém-nascidos, sendo indispensável a estimulação visual precoce e a reabilitação, com o envolvimento de uma equipe especializada, multidisciplinar — aponta a oftalmologista Camila Ventura, coordenadora do mutirão.
Os resultados dos primeiros exames estão comprovando o que os médicos já suspeitavam: nos bebês das mulheres grávidas que tiveram o zika vírus logo no início da gestação, os problemas na visão são mais graves.
“Se foi no primeiro trimestre, elas tendem a ter mais alteração ocular do que uma criança de uma mãe que teve os sintomas no terceiro trimestre”, conclui Camila.
Ainda segundo a médica, o déficit visual das crianças será avaliado e acompanhado ao longo de seu desenvolvimento. Somente ontem, a Fundação Altino Ventura recebeu 56 pacientes com microcefalia no Centro Especializado de Reabilitação Menina dos Olhos.
De acordo com o último balanço do Ministério da Saúde, já chega a 21 o número de estados com transmissão autóctone de zika vírus — ou seja, ciclos de contaminação se impuseram em cada um deles, independentemente de imigração de casos.
No Brasil, houve 3.174 notificações de microcefalia supostamente associada ao zika vírus desde o início de 2015. Em todo o ano de 2014, foram registrados 147 casos da malformação.
No mês passado, o Ministério da Saúde lançou um protocolo de vigilância e resposta aos casos de microcefalia relacionados ao zika vírus. No documento, o órgão publicou estimativas de pessoas que podem ter sido infectadas no país: de 497.593, num cenário conservador, a 1.482.701, segundo os cálculos mais pessimistas.
Os sintomas da contaminação pelo zika vírus são manchas vermelhas na pele, febre intermitente, conjuntivite e dores nas articulações, nos músculos e de cabeça.
(Fonte: Jornal Nacional)