Há experiências tão improváveis que parecem saídas de obras de ficção da literatura ou do cinema. Mas são alcançáveis quando alguém determinado decide transformá-las em realidade. Sem jamais ter convivido com um cego em casa ou no trabalho, o publicitário tijucano Rafaello Ramundo, de 36 anos, criou o projeto Pedaleiros, que leva pessoas com deficiência visual para andar de bicicleta em eventos espalhados pela região metropolitana do Rio.
A iniciativa surgiu em março do ano passado, quando o publicitário comprou uma bicicleta dupla para realizar os primeiros testes. Atualmente, são 11 bicicletas. Um pedaleiro guia, treinado para direção e primeiros socorros, vai no selim da frente. Atrás, fica o passageiro, que também pedala e se equilibra com o auxílio de outro guidão. Os eventos atraem cerca de 200 participantes. O publicitário revela que, no início, até mesmo os beneficiados pelo projeto ficavam incrédulos com a possibilidade de andar de bicicleta.
— Muitos duvidavam, não conseguiam acreditar nesta possibilidade. Mas hoje a resposta é excelente, eles desfrutam de uma grande sensação de liberdade depois de passarem pela experiência, sentem uma adrenalina grande. Eu fico feliz, porque o nosso propósito era mesmo esse: o de oferecer uma programação especial para um público para o qual não há atrações pensadas. Queremos que eles saiam de casa e venham participar, interagir, socializar e fazer amigos — comenta Ramundo.
Os eventos são organizados em ciclos inspirados nas estações do ano. A última fase da etapa verão será no próximo dia 12, das 14h às 18h, no Parque Madureira. Desta vez, a expectativa do publicitário é bater todos os recordes de mobilização, com atrações extras, como shiatsu, e a possibilidade de as pessoas que enxergam vivenciarem experiências semelhantes às de portadores de deficiência.
— Nessa modalidade, alguém que vê vai atrás do pedaleiro guia, mas com os olhos vendados. A ideia é que a pessoa sinta a dificuldade e a emoção que o projeto desperta nos participantes que nunca haviam andado de bicicleta, e que deixaram de fazê-lo por falta de visão — explica Ramundo.
(Fonte: O Globo)