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Um novo "ensaio sobre a cegueira"

Saúde Visual já apresentou neste artigo a respeito do filme Ensaio sobre a Cegueira, do cineasta Fernando Meirelles baseado em livro de José Saramago, a seguinte questão: Qualquer um pode ser acometido pela súbita falta de visão?

Na época da exibição do filme nos cinemas, os consultórios oftalmológicos foram invadidos por pessoas impressionadas com o filme e preocupados com a possibilidade dos casos de cegueira súbita serem comuns e o referido artigo responde a esta dúvida.

Agora, Saúde Visual propõem uma nova reflexão: E se todo mundo realmente ficasse cego?

No livro/filme sabemos que tudo vira um caos. Mas para a ciência as coisas poderiam tomar um caminho diferente. "Há várias tecnologias que ajudariam: bengalas ultrassônicas que podem indicar se há objetos pela frente ou até robôs que atuariam como cães-guia", diz o especialista em robótica Darwin Caldwell, diretor do Instituto Italiano de Tecnologia.

Bengalas com tecnologia assistiva já apresentamos várias, como esta aqui, a i-Cane. Assim como os carros que andam sozinhos e máquinas capazes de substituir médicos em cirurgias. Porém, para realizar tudo isso, seria necessário que alguém enxergasse. Ou não?

Fábricas totalmente automatizadas também não estão longe de ser realidade. "Robôs seriam capazes de se autoconstruir", diz Ken Young, presidente da Associação Britânica de Automação e Robótica. Ou seja: se a cegueira generalizada se espalhasse devagar, daria para a gente remodelar o mundo - mudando tudo para que nada mude. Com algumas adaptações, claro. "Teríamos que aprender novas maneiras de lidar com o computador, por exemplo. Seria algo como tocar um instrumento musical, tendo o som como a resposta para cada ação na máquina", diz o engenheiro Ken Goldberg, da Universidade de Berkeley, nos EUA. Impossível?

Sabemos que não. Nosso intrépido colaborador cego, Lucas Radaelli, já apresentou esta série de vídeos onde mostra que, com uma mãozinha de softwares de reconhecimento de voz e programas que leem o que aparece na tela, tal situação já é bem comum. E as tecnologias que já existem, ou que estão nascendo, também mostram isso.

Por exemplo: não é por falta de imagens que a televisão vai acabar. Aparelhos projetariam imagens que poderiam ser tocadas. A tecnologia para isso é a mesma dos celulares mais modernos: quando você põe o dedo na tela sensível ao toque, ela solta um leve pulso elétrico que simula a sensação de apertar um botão de verdade. As pesquisas para transformar isso em uma TV tátil 3D começaram no Japão em 2005.

Já os robôs cuidariam dos serviços domésticos, como já temos notícias atuais a respeito, como os aspiradores 100% automáticos que andam sozinhos, mapeiam a casa com seus sensores internos e depois saem sugando a sujeira sem encostar nos móveis. Fora de casa os serviços automatizados também podem ajudar: já existem restaurantes em que a comida chega por trilhos à mesa, coisa que dispensa os garçons.

Enfim, a tecnologia assistiva, termo utilizado para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida Independente e inclusão social, seria a salvação do planeta, caso todos ficassem cegos.

Mas tomando os devidos cuidados e seguindo as (muitas) dicas que Saúde Visual publica diariamente aqui, neste site, você pode ficar tranquilo que isto continuará sendo somente um ensaio...


(Fonte: Superinteressante, sobre texto de João Vito Cinquepalmi)

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