Desafiando o senso comum de que, se o córtex virtual não recebe informações visuais na infância, a criança dificilmente poderá enxergar objetos no futuro, cientistas da Hebrew University Medical School, em Israel, descobriram que pessoas cegas podem descrever objetos e até identificar letras e palavras através de sons especiais.
À partir destes dados, a equipe do pesquisador sênior Amir Amedi, ensinou os pacientes cegos a utilizarem um dispositivo de substituição sensorial. O equipamento tem o objetivo de fornecer informações visuais aos cegos através de outros sentidos.
Com auxílio de uma pequena câmera conectada a um computador e fones de ouvido, pessoas com deficiências oculares puderam identificar objetos e pessoas familiares. Isto porque as imagens foram convertidas em paisagens sonoras, o que permite ao indivíduo interpretar as informações.
Ou seja, o dispositivo - criado pela empresa israelense OrCam - informa ao usuário por meio de um sistema de áudio o que é aquilo que ele está apontando com os dedos. Basta apenas que as informações, como rostos de conhecidos, nomes de animais, notas de dinheiro números de ônibus, textos de jornais e mercadorias de uma loja, sejam cadastradas no banco de dados do dispositivo e a pessoa cega fica inserida no mundo visual.
O produto custa o mesmo que um aparelho auditivo. Em 24 horas de vendas, a empresa vendeu todos os 100 exemplares disponibilizados para teste. Já estão abertas as encomendas para uma nova leva de 500 peças, que serão entregues até o final do ano.
Mas o dispositivo ainda precisa de melhorias. Segundo o dr. Amnon Shashua, pesquisador da Hebrew University, objetos em superfícies flexíveis ou pouco iluminadas, por exemplo, ainda são o maior desafio da OrCam.
Até agora, os assistentes de leitura para deficientes visuais têm sido complicados dispositivos que reconhecem o texto em ambientes restritos ou, mais recentemente, software instalados em telefones celulares que têm capacidades limitadas.
Não é a primeira vez que pesquisadores criam um dispositivo capaz de ajudar pessoas cegas a perceber o ambiente ao seu redor e principalmente identificar objetos individuais, convertendo imagens em sons. É o caso do EyeMusic.
A grande diferença em favor do OrCam é que ele tem um pequeno cabo ligado a um pequeno computador concebido para caber no bolso do utilizador. O sistema conecta aos óculos da pessoa com um pequeno ímã e usa um alto-falante de condução óssea para transmitir uma narração clara ao "ler" em voz alta as palavras ou o objeto apontado pelo dedo do usuário.
Os deficientes visuais que passaram pela experiência com o equipamento, alcançaram um nível de acerto que ultrapassa o critério estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para a cegueira, segundo os pesquisadores. Os resultados, apesar de não convencionais por não utilizarem o sistema oftalmológico do corpo, não deixam de ser visuais, por ativarem a rede de identificação visual do cérebro.
Liat Negrim, que trabalha na empresa que desenvolveu a OrCam, gravou um vídeo onde ela aparece testando o dispositivo. Confira abaixo:
(Fonte: Firs)