Sexta-feira é dia de feijoada? No Rio de Janeiro costuma ser no sábado. Em São Paulo, costuma ser “de quarta”, no modo de falar dos paulistas. Em comum, o feijão preto. Aquele, que tem gosto de festa, é melhor e mal não faz. O preto que satisfaz, já cantavam “As Frenéticas”, grupo musical feminino formado por seis vocalistas, que surgiu em 1976, no Rio de Janeiro, no auge do sucesso das discotecas. Se você não sabe de quem (ou do que) estou falando, vá até o final deste artigo e coloque a música para tocar. Inclusive, vai dar um novo sabor a este texto...
Colocou a música para tocar? Então, voltando ao tema de hoje, o feijão preto é uma unanimidade apenas na feijoada. No prato de cada dia, São Paulo consome um feijão de cor clara, chamado de ‘carioca’. Enquanto que os cariocas consomem o pretinho básico. Bairrismo? Perseguição? Provocação? Nada disso! O feijão carioca se chama assim por causa de um... porco!
Quem conta essa história é Leonardo Melo, coordenador do programa de melhoramento de feijão da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Curiosamente, o feijão carioca surgiu foi mesmo em São Paulo, numa propriedade rural, na década de 70 - mesmo período em que "As Frenéticas", aliás. Coincidência?
Foi quando um produtor encontrou uma planta diferente em meio a sua lavoura, provavelmente originada de uma mutação genética. Era uma planta grande e vistosa, carregada de um tipo de feijão cujos grãos eram da cor bege com listras marrons. O fazendeiro levou a semente dessa planta curiosa para o Instituto Agronômico de Campinas, que começou a multiplicar e testar o grão. Lá, eles comprovaram que esse feijão tinha uma produtividade muito maior que os outros tipos já existentes, capaz de produzir o dobro das outras espécies.
Então, por que ‘carioca’, se foi descoberto no interior de São Paulo? O que o porco tem a ver com tudo isso, gente?
Acontece que a cor do feijão descoberto pelo fazendeiro é a mesma de uma raça de porco caipira, chamada carioca, muito comum naquela época. O carioca era um porco gordo e bege, que tinha essas listras espalhadas pelo corpo. Ao perceber a similitude cromática, o produtor decidiu homenagear o novo feijão com o nome do animal. Simples assim. Só não me perguntem porquê o porco é conhecido como carioca. Estamos falando de feijões.
A história real nada tem do glamour que reza ter sido este feijão batizado como ‘carioca’ em homenagem ao calçadão de Copacabana que - vamos combinar -, não é bege e nem listrado.
De fato, o feijão carioca não é o mais comum no próprio Rio de Janeiro, como também não é no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Espírito Santo. Nestes estados, por diferentes razões culturais e históricas, as pessoas preferem o feijão preto mesmo. Porém, ainda de acordo com a Embrapa, o feijão carioca é o mais consumido do Brasil, desmistificando, portanto, a história de que 10 entre 10 brasileiros preferem o pretão maravilha...
(Fonte: Embrapa)