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Auf Wiedersehen, Deutschland!

O dia 4 de abril de 2013 marcou meu último dia vivendo sozinho na Alemanha.

Eu resolvi ir para lá principalmente para estudar. A intenção inicial era evoluir academicamente, o máximo possível, e praticar meu conhecimento da língua alemã. No final das contas, eu acabei fazendo isso mesmo, mas não bem como eu queria.

Como alguns de vocês puderam acompanhar, desde o começo as dificuldades surgiram. A verdade é que surgiram bem mais do que eu imaginei e, na medida do possível, fui contornando-as.

Meu maior problema foi a demora na entrega dos materiais que eu precisava para estudar. A cada aula os professores passavam novos slides a serem lidos, capítulos de livros, artigos. Alguém precisava adaptar esses materiais para mim, ou seja, colocar em um formato digital, descrever imagens, escrever fórmulas matemáticas de uma forma que eu pudesse lê-las com o meu leitor de telas, etc.

No entanto, o saldo positivo foi interessante. Na matéria de robótica, fiquei a um passo de tirar a maior nota de todas, não porque eu recebi os materiais, mas sim porque estudei com dois grandes amigos que literalmente fizeram eu aprender tudo lendo os materiais para mim.

Já na matéria de Speech Recognition, tirei uma nota ótima também, porque foi a única matéria que recebi todos os materiais que eu deveria receber.

No curso de alemão, que eu fazia oito horas por  semana, eu recebi  por volta de 40 páginas de aproximadamente 200 que o livro tinha. Eu tinha dois professores, e um deles começou a digitar as páginas dos livros que iríamos usar.

Quando sento aqui e penso, o que mais eu poderia ter feito? Porque sempre há algo mais que podemos fazer, não importa a situação. E algumas coisas eu fiz, mas não foram suficientes. Eu fico chateado com essa situação, e alguns amigos interpretam errado, achando que eu estou me culpando. Não estou me culpando, e nem estou culpando as pessoas que disseram que arrumariam os materiais para mim e não arrumaram. Eu analiso a situação: Eu fiz a matéria ou não? A resposta é: não, e é isso que me chateia. Eu queria muito ter feito e aprendido.

Mesmo com esses contratempos, eu gostei demais dessa experiência. Ter morado sozinho me deu várias ideias do que eu quero para minha vida, e como quero que ela seja.

Para quem um dia se perdeu quase na porta de casa, porque estava nevando e colocou o capuz para se proteger, e perdeu todo o sentido da audição, teve que esperar um amigo que estava chegando em casa vir buscá-lo e dois meses depois essa pessoa estava em  um passado distante, e nem acreditaria que ela mesma estaria indo buscar o motoboy que trazia a comida, que havia se perdido quase na porta da casa dela;

Para quem não sabia fazer absolutamente nada na cozinha, chegou até a ser cômico 3 meses mais tarde explicar passo a passo para outra pessoa como fazer um macarrão a carbonara; enfim, nada disso seria possível se eu não tivesse recebido ajuda de várias pessoas.

Fica registrado aqui o meu muito obrigado para todos os amigos que fiz na Alemanha.

E se tem algo importante que eu trouxe comigo dessa viagem foi: mesmo que eu não esteja fazendo realmente o que eu queira porque não tive as chances que precisei, eu vou fazer qualquer outra coisa. Porque o mundo está cheio de coisas que eu quero fazer, e se eu fosse fazer tudo, eu teria que viver mais de uma vida para terminar.

É só não ficar parado. A vida continua. A vida acontece.



LUCAS RADAELLI é natural de Curitiba (PR). Cego desde nascença do olho esquerdo e, desde os 4 anos, do direito também. Estuda ciências da computação na Alemanha. Lucas se define como deficiente visual, nerd, leitor compulsivo e projeto de escritor que gosta de opinar sobre coisas relacionadas a esses e outros assuntos usando o seu ponto de vista, que, segundo seu bom humor, aparentemente é nulo. Blog: lucasradaelli.com

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