Nesta semana o ministro da fazenda Guido Mantega anunciou que o governo brasileiro pode adiar a regra que obriga todos os carros nacionais a saírem de fábrica com itens básicos de segurança como freios anti-blocantes e bolsas de ar infláveis. Originalmente a regra vigoraria a partir de janeiro de 2014 e já havia causado uma série de mudanças no setor automobilístico por conta dela. Um exemplo foi o anúncio da aposentadoria pela Volkswagen de seu modelo furgão Kombi, no mercado desde 1950 e incapaz de se adaptar às novas exigências.
Nós, como brasileiros, já estamos acostumados a estas mudanças de regras repentinas, na maioria das vezes com explicações incoerentes e infelizes como mais uma vez ocorreu. Mas o maior deslize do Ministro foi justificar a mudança alegando que estaria preocupado com o impacto que o aumento de preços, por conta da inclusão dos itens de segurança, causaria no mercado. Segundo ele, R$ 1.500,00 a mais nos veículos populares diminuiriam as vendas e provocariam perdas ao país deixando claro que para o governo é mais importante controlar a economia do que preservar a vida dos brasileiros.
Estimativas apontam que teremos por volta de 60.000 mortes causadas por acidente de trânsito no Brasil em 2013, número superior ao de casos de homicídio e até mesmo de câncer. É verdade que na maioria dos casos a imprudência e o péssimo estado das vias públicas interferem nestes números, mas também é verdade que os itens eletrônicos de segurança dos veículos ajudariam a reduzir substancialmente o número de óbitos. Para se ter uma ideia melhor do tamanho do problema basta observar os números de pedidos de indenização ao Seguro DPVAT que em 2012 cresceu 40% em relação a 2011 e deste montante quase a metade foram pagas para casos envolvendo jovens entre 18 e 34 anos.
Em resumo nosso futuro, ou melhor, a força tarefa que nos faria um país vibrante, jovem e cheio de energia está morrendo em vias públicas e as autoridades não parecem se importar. Para o ministro da fazenda, Sr. Guido Mantega, não importa o impacto que suas medidas emergenciais causarão na vida da população brasileira. O que importa mesmo é o quanto de dinheiro o governo pode arrecadar com ela evidenciando assim o valor que o ministro dá para seu povo.
Como 2014 está próximo nos resta torcer para que no próximo ano possamos ouvir das autoridades notícias de investimento em transporte público, recuperação de vias, investimento em segurança e principalmente sentir que eles se preocupam com nossa integridade. Quem sabe Papai Noel nos ouve e nos traz um ministro mais decente.
LEONARDO CARRARA é empresário do ramo óptico desde 1994. Tem formação em engenharia com especialização em administração de empresas, em óptica e optometria. Docente, professor de técnicas refrativas e coordenador de estágio do Instituto Filadélfia de São Paulo.