Ora, direis, ouvir imagens?

Verônica de Andrade Mattoso apresenta sua dissertação de mestrado, onde pesquisa sobre o potencial informativo da áudiodescrição aplicada a obras de artes visuais bidimensionais como representação sonora da Informação em Arte para pessoas com deficiência visual.

Os resultados refutam a desconfiança e a ignorância a respeito do potencial informativo que existe no acesso das pessoas com deficiência visual a padrões bidimensionais e revelam contribuição da áudiodescrição para a Ciência da Informação.

Conforme publicado no Artigo 1 da Convenção da ONU, “pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”.

O compromisso brasileiro é ratificado em território nacional em 9 de julho de 2008, pelo Decreto Legislativo nº 186, com valor de emenda constitucional promulgada pelo Decreto nº 6.949, de 25 de agosto de 2009, quando então o Brasil torna-se um dos Estados Partes da Convenção da ONU, documentando o empenho do País em realizar não somente a pesquisa quanto o desenvolvimento – bem como a disponibilidade e o emprego – de novas tecnologias para aquele público, do qual fazem parte as pessoas com deficiência visual.

Os primeiros esforços empreendidos para a implantação da áudiodescrição no Brasil foram norteados pelos parâmetros de acessibilidade estabelecidos pela Lei 10.098/00 – conhecida como Lei da Acessibilidade –, no sentido de o recurso atender ao maior número possível de brasileiros, utilizando-se por meio a televisão. Todavia, foram necessários quase dez anos de lutas para ver cumprir-se o direito adquirido, até que em 1º de julho de 2011 foi regulamentada a prática sistemática da áudio-descrição nas emissoras de televisão brasileiras de sinal digital, oferecendo, pelo menos, duas horas de programação semanal com aquele recurso, primeiro passo para a efetiva inserção da áudio-descrição nas políticas públicas do País.

A técnica da áudiodescrição foi proposta pela primeira vez, em 1975, como resultado da pesquisa acadêmica que deu origem à dissertação de mestrado de Gregory Frazier, no Masters of Arts da Universidade de São Francisco, nos Estados Unidos, intitulada The Autobiography of Miss Jane Pitman: An All-audio Adaptation of the Teleplay for the Blind and Visually Handicapped.

A regulamentação da prática em território nacional especifica a obrigatoriedade da técnica para as emissoras de televisão, o que, consequentemente, deu origem a um documento que faz referência à utilização da áudiodescrição naquele ambiente. Todavia, o recurso vem sendo utilizado em outros territórios culturais, de norte a sul do país, por meio de uma rede de “desviantes” que, a despeito de regulamentações, apostam e investem na áudio-descrição, conforme demonstram notícias amplamente difundidas via internet – por meio de sites e blogs sobre o tema – dando conta de eventos em teatros e cinemas, além de experiências realizadas em salas de aula, centros de convenções, exposições em museus e galerias comerciais de artes.

Os esforços de todos os brasileiros envolvidos na luta pela áudiodescrição, no Brasil, refletem que esta técnica de tradução intersemiótica representa para as pessoas com deficiência visual, neste início do Século 21, o mesmo impacto que tiveram, cada uma a seu tempo, outras tecnologias de informação e comunicação e outros produtos assistivos, entre os quais, respectivamente: o sistema Braille, o Rádio, o livro falado, o cinema, a TV, a internet e, consequentemente, os programas leitores de telas de computador, entre outros. A áudiodescrição vem minimizar uma imensa lacuna, visto que oportuniza o acesso à cultura, mecanismo capaz de validar o homem ao seu tempo e à sociedade em que vive. A cultura referencia; remete ao passado; fundamenta reflexões que constituirão o futuro. Propicia olhar para trás. Ver as origens. Reconhecer linguagens. Enxergar por diversos ângulos o ambiente de uma determinada época. Por meio da cultura, o homem aterra sua identidade, valida o que é, o que foi e o que será. Assim é que, mesmo ainda sem obrigatoriedade, a nova prática vai tomando de assalto os mais diversos territórios culturais, até então inacessíveis aos deficientes visuais, do ponto de vista informacional.

A dissertação de Verônica é o resultado de um empreendimento de pesquisa sobre a prática da áudiodescrição, tanto sob o aspecto epistemológico quanto ontológico, gerando um aprendizado em via de mão dupla, validando o caráter interdisciplinar da Ciência da Informação – reconhecido por inúmeros autores, estrangeiros (como Tefko Saracevic) e brasileiros (por exemplo, Lena Vania Ribeiro Pinheiro).

Estruturada em oito capítulos a partir da Introdução (Capitulo 1), o Capítulo 2 espelha os objetivos da pesquisa, enquanto o terceiro (Capitulo 3) trata da metodologia aplicada, bússola do percurso investigativo onde são apresentados os métodos, as estratégias metodológicas e os procedimentos escolhidos.

Os pressupostos teóricos estão explícitos no Capítulo 4 e, no Capítulo 5, apresenta-se um passeio histórico por iniciativas de representação da informação para quem não pode ver até desaguar na invenção da áudiodescrição.

O Capítulo 6 traça um panorama evolutivo da Ciência da Informação e aborda os itinerários interdisciplinares que acarretaram o surgimento da disciplina Informação em Arte, no IBICT, cujas estruturas conceituais somadas às Diretrizes da Áudiodescrição foram basilares para a realização da Pesquisa-Ação.

A análise da Pesquisa-Ação é realizada no Capítulo 7, abordando as etapas da experiência vivenciada pela pesquisadora-autora desta dissertação com relação à modalidade da áudio-descrição aplicada a obras de artes visuais bidimensionais.

O capítulo 8 apresenta algumas considerações.

Acreditando na Arte como elemento de transformação social e na educação da sensibilidade, fica o convite para embarcar nesta trajetória de aprendizagem sob um novo olhar, uma nova maneira de observar a obra de arte como fonte de informação, revelando caminhos possíveis para a inserção cultural, educacional e social das pessoas com deficiência visual.

Para acessar a pesquisa na íntegra, basta clicar aqui.

Pagina 2 de 41

Prev Next

Existe um caminho que vai dos olhos ao coração, sem passar pelo intelecto.

Gilbert Keith Chesterton

Mulher, teus olhos são meus livros.

Machado de Assis

O horizonte está nos olhos, e não na realidade.

Ángel Ganivet

A verdadeira viagem não está em sair a procura de novas paisagens, mas em possuir novos olhos.

Marcel Proust

Olhos nos olhos, quero ver o que você diz. Quero ver como suporta me ver tão feliz.

Chico Buarque

Quando penso em você, fecho os olhos de saudade.

Cecilia Meireles

Obstáculos são aqueles perigos que você vê quando tira os olhos de seu objetivo.

Henry Ford

Guarda-me, como a menina dos seus olhos. Ela é a tal, sei que ela pode ser mil, mas não existe outra igual.

Chico Buarque

Também acho uma delícia quando você esquece os olhos em cima dos meus.

Chico Buarque

Olhos nos olhos, quero ver o que você faz, ao sentir que sem você eu passo bem demais.

Chico Buarque

Conheça a nova coleção da Fiero!