Já tratamos em nossa seção “O que é?” sobre a lágrima. Porém, de um ponto de vista específico, o das funções. Por isso, vamos retomar o assunto, só que abrangendo melhor o tema.
A matéria sólida da lágrima é constituída predominantemente de proteínas, mucopolissacarídeos e lipídios. O restante é representado por íons de sais inorgânicos, dentre eles o cloreto de sódio é o mais presente. As lágrimas são compostos sintetizados à partir do soro sanguíneo modificado pelo epitélio secretor das glândulas lacrimais, que já apresentamos neste outro artigo.
O filme lacrimal é composto por três camadas: a mais anterior é a camada de lipídios (ou superficial), seguida pela camada intermediária (que é a aquosa), e pela camada de mucina (ou profunda), que está intimamente ligada ao epitélio corneano e conjuntival.
A camada lipídica é secretada pelas glândulas de Meibomius. Quando as pálpebras se fecham, durante o piscar, a camada lipídica é comprimida contra a aquosa e, quando as pálpebras se abrem, a camada lipídica espalha-se sobre a camada aquosa, impedindo sua exposição, diminuindo a evaporação da lágrima. A camada aquosa ocupa quase toda a espessura do filme lacrimal e contém, entre outras substâncias, oxigênio (maior fonte de oxigenação corneana), lizosima (papel bactericida) e imunoglobulinas (principalmente Ig A, que impede a aderência de bactérias à superfície corneana). A camada mucosa é produzida pelas células caliciformes da conjuntiva, é uma camada hidrofílica que adere à superfície ocular hidrofóbica, permitindo que a lágrima se distribua homogeneamente na superfície corneana até o próximo piscar; dissolve-se também na camada aquosa, diminuindo a tensão superficial com a camada lipídica (hidrofóbica), tornando o filme lacrimal mais estável e, por fim, mantém a superfície corneana úmida.
Entre duas piscadas, com o olho aberto, o componente aquoso se evapora lentamente, aproximando a camada de lipídios com a camada de mucina. Os lipídios se difundem, então, pelo que restou da camada aquosa e atingem a camada mucosa, formando uma área hidrofóbica, que repele a porção aquosa (mancha seca). Este período, desde o piscar até a formação da mancha seca, chama-se tempo de rompimento (ou rotura) do filme lacrimal.
Existem testes lacrimais que revelam este tempo de rompimento, além do fator quantitativo e qualitativo da lágrima. Quando ocorre em menos de 6 segundos após ser formado o filme lacrimal, aponta-se um caso patológico. Se o rompimento ocorre entre 6 e 10 segundos, é considerado anormal e deve ser avaliado. Se o rompimento ocorre além de 10 segundos, então é considerado normal.
A secreção lacrimal é dividida em basal e reflexa. A secreção basal provém das glândulas de Krause e Wolfring e a reflexa é produzida pela glândula lacrimal principal. Enquanto que a secreção basal é constantemente produzida, a reflexa só é secretada mediante estimulação (tátil ou química).
A produção de lágrima pode ser avaliada pelo teste de Schirmer, que determina a quantidade lacrimal num período de 5 minutos, usando papel-filtro. Existe hipossecreção lacrimal quando 1/3 do papel retém lágrima. 2/3 do papel com lágrima corresponde a um olho normal. Mais de 2/3 (ou todo o papel) com lágrima, significa um olho com hipersecreção lacrimal.