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Golaço do Brasil

Há cinco anos, o Laboratório de Bioengenharia Ocular do Departamento de Oftalmologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estuda o processamento da visão como elemento fundamental para a execução dos movimentos em esportes. “Temos como base a aprendizagem implícita que entende o comportamento visual de qualquer pessoa em determinada situação. O objetivo é transferir habilidade, entender como a pessoa enxerga e como a forma que captura a imagem influencia na ação efetiva”, explica o Professor Adjunto Livre-docente e vice chefe do Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Paulo Schor.

Atualmente, o laboratório procura identificar o padrão dos goleiros profissionais comparado aos amadores. Para isso, faz uso de tecnologias como o rastreador do olhar, que estima para onde a pessoa está olhando (capa a visão central e não periférica) e consegue desvendar muitos aspectos. Além do rastreador, outras ferramentas usadas pelo laboratório são sensores de aceleração e câmeras que filmam em alta velocidade.

“De 20 anos para cá, vem crescendo muito essa área que estuda se há ou não diferença de processamento de informação visual entre experts e iniciantes”, comenta Martina Navarro, pósdoc do laboratório. Na cobrança de um pênalti, por exemplo, o batedor tem de decidir em que lado do gol vai chutar, a que altura e com que força vai cobrar a falta. Do outro lado, o goleiro tem de se posicionar de tal forma que maximize as chances de pegar a bola, evitando o gol do time adversário. Martina explica que os goleiros muito bons em defesa de pênaltis costumam ter um rastreamento visual diferente. “Eles geralmente olham para a cabeça, a região do quadril e para o pé de apoio de quem vai bater a falta. Isso é característico, não é aleatório”, conta.

Já os novatos têm um padrão visual mais exploratório. Eles observam várias partes do corpo do adversário e tentam sacar algum movimento que lhes dê a pista de para que lado irão chutar. Essas ‘sacadas’ são menos frequentes entre os mais experientes. Outro ponto que os diferencia é o tempo de fixação. Nos iniciantes, as fixações feitas na tentativa de extrair informações são mais curtas que as dos experts.

Um estudo feito pela Universidade Vrije, em Amsterdã (Holanda), revela que, numa simulação de videogame, os goleiros experientes demoravam mais tempo para se colocar que os novatos. Os milésimos de segundo a mais eram usados pelo goleiro para observar melhor a postura do batedor. Por ter notado a posição do pé, da perna de apoio e da perna do chute, os goleiros experientes tiveram de corrigir sua posição 36% menos vezes que os novatos.

Voltando ao Brasil, uma vez que se chega ao padrão ideal, a ideia é levar aos novatos quais foram as estratégias usadas pelos mais experientes por meio do treinamento perceptual. “O treinamento perceptual tem de estar atrelado ao gesto motor. Há melhorias em torno de 8 a 10%. A única dificuldade agora é transferir isso para o campo. No laboratório tentamos explorar a situação como se fosse real, a imagem é projetada no telão, mas é preciso garantir que haverá transferência para a situação na vida real”, diz Martina.

Uma das técnicas usadas nesse treinamento é a aprendizagem implícita, em que a pessoa não racionaliza a ação, e sim a executa automaticamente. Exemplo disso: em vez de falar para a pessoa inexperiente “olhe para a cabeça do adversário e fixe nesse ponto por x segundos”, apresenta a ela uma situação real no telão, colocando um ponto translucido no corpo de quem vai cobrar o pênalti, chamando a atenção para a região que deve ser observada. Com isso se mostra qual a estratégia visual seria a ideal. Outro exemplo é que durante a corrida de aproximação, o ponto vai para o quadril do adversário. “Depois é feito outro teste sem a marcação para ver se a pessoa usou a estratégia. A maioria a adota”, comenta.

Martina ressalta ainda que o aprendizado implícito no esporte é muito interessante também para amenizar as situações de estresse. “Há teorias de estresse que apontam que quem está estressado pensa muito, o que diminui a capacidade de processar outras coisas que seriam mais importantes. Então se a pessoa não tem bagagem explícita nem muita informação para acessar, tende a errar menos”.

Na prática, coloca-se o atleta para fazer a tarefa num nível mais fácil e depois vai dificultando. Para treinar chute a gol, ele fica numa distância curta, num primeiro momento, e depois vai se distanciando. Outra estratégia é ensinar por analogia. No tênis de mesa, os treinadores costumam passar 12 regras verbais de como se deve rebater. “Se ao invés de passar isso verbalmente, explicar que ao rebater deve fazer o movimento de um triângulo, o jogador vai saber o que fazer sem um grande número de informações explícitas. Se ele tem as informações, acaba as acessando quando achar necessário e assim poderá quebrar o movimento. Já se tem prática, joga automaticamente”, explica.

A ideia geral da área de estudos do comportamento motor é a de que os estímulos visuais em seres humanos acontecem onde tem informação. “O ser humano é visão. Outros estímulos sensoriais fazem parte. Por isso começa a interessar a muito pesquisadores a correlação entre como as pessoas enxergam e como agem no mundo. É a junção da importância da percepção visual com o comportamento motor”, conta Martina. Esses estudos comparam alguém que é muito bom em determinada atividade com outra pessoa que não tem muita destreza em determinada tarefa. Ao avaliar o que os diferencia, é possível identificar em que pontos treinar o não expert para que ganhe mais habilidade ao fazer certa tarefa.

 

Autora: Christye Cantero


(Publicado originalmente em Universo Visual)

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