Copa do Mundo: jogada decisiva

Categoria: Nos esportes

Enfim, vai começar a Copa do Mundo Fifa no Brasil, debaixo de muito questionamento sobre a estrutura - e infraestrutura - do país em várias áreas. Não raro, as conversas entre amigos, familiares ou colegas de trabalho sobre trânsito, greves, manifestações ou o preço que os táxis cobram para levar o público aos estádios sempre terminam com algum comentário do tipo “imagina na Copa?”.

E quando falamos não só de Copa do Mundo, mas de qualquer outro esporte, será que a medicina oftalmológica está preparada para atender e orientar atletas, sejam eles os profissionais ou aqueles que correm no parque nos finais de semana? Para responder a isso vale até outra questão: Quantas vezes, num consultório de oftalmologia, o profissional pergunta se o paciente faz alguma atividade física?

Mas a importância dos cuidados com a visão para o bom desempenho esportivo deve ser foco de atenção não só dos médicos, quanto dos praticantes de esportes. Uma pesquisa feita durante os Jogos de Inverno de 1994, em Lillehammer, na Noruega, apontou que 58% dos atletas nunca tinham feito exame ocular, 20% usavam óculos no dia a dia e apenas 3% na prática de esportes.

“A visão é o principal instrumento de trabalho dos atletas e tem de estar em boas condições para suportar a carga de percepções exigidas no esporte. E as pessoas têm de estar preparadas para prevenir eventuais traumatismos”, comenta Emerson Castro, oftalmologista do Hospital das Clínicas. “Independente de ser um atleta de alto rendimento ou não, tanto a parte física quanto a de percepção visual é muito importante. E nós, oftalmologistas, somos grandes disseminadores de informação sobre, por exemplo, prevenção de trauma ocular na prática de esportes e o uso de óculos específicos para conforto durante o esporte”, comenta Castro.

Segundo ele, seria interessante se o país tivesse mais recursos e facilidade para pesquisa nessa área. “Estuda-se muito as doenças raras, que nunca vão aparecer num consultório, e não se tem a disseminação de informações práticas para o dia a dia de quem faz um esporte, por exemplo”, diz Castro. “Essas informações poderiam ajudar o paciente a prevenir a cegueira e melhoraria a qualidade de vida. Talvez falte colocar o trauma no esporte na grade curricular de residências”, completa.

O médico ressalta que os atletas considerados de risco têm de ter atenção especial, como os que já passaram por uma cirurgia de miopia ou de glaucoma, os que são cegos de um dos olhos ou os automíopes, que têm retina mais frágil. “Nesses casos, principalmente, os oftalmologistas podem ajudar muito com informações para evitar traumatismos e traumas oculares”.

Outro ponto importante que os médicos podem ajudar os pacientes se refere ao fato de usar ou não óculos durantes as atividades físicas. Na Copa do Mundo Fifa de 1970, realizada no México, o então técnico da seleção brasileira, João Saldanha, chegou a dizer que seria melhor que Pelé, que era míope, jogar de óculos. “Provavelmente ele tinha habilidades cognitivas tão refinadas, como antecipação, reação e tempo de resposta. Será que se Pelé colocasse óculos seria melhor?”, comenta Castro. Segundo o especialista, é preciso considerar as características individuais dos pacientes, já que enquanto alguns podem se incomodar com baixo grau refrativo, outros podem ter graus mais altos e viverem bem sem óculos ou lentes de contato.

Autora: Christye Cantero

(Publicado originalmente em Universo Visual)