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Habilidades perceptuais e cognitivas

Nos Estados Unidos, onde existe a cultura de prevenção, há esportes que têm até protocolo de exames para os atletas, caso da associação americana de boxe profissional. No exame de rotina, os médicos dão atenção especial ao mapeamento da retina e ao exame de fundo de olho por conta dos riscos de traumatismo que o esporte oferece.

É também em terras estadunidenses que desde a década de 80 os atletas aprimoram a capacidade visual por meio de treinamento. O visual sport training envolve uma série de características como processos cognitivos e questões fundamentais no meio esportivo como memória, aprendizado, atenção, rapidez de decisão e resposta motora. As técnicas têm por objetivo estimular nos atletas antecipação, foco, reação e também o aprimoramento emocional já que os esportistas sempre estão sob pressão por bons resultados.

Um aliado para explorar os processos cognitivos é o simulador, que permite reconhecer alguns padrões, caso de jogadores de beisebol. Um piloto de Fórmula 1, por exemplo, também treina em simuladores com tecnologia 3D. “Há muitos trabalhos que mostram que os simuladores são bons, mas é preciso cautela. É óbvio, por exemplo, que treinar em um videogame irá melhorar a performance, mas na prática pode ser diferente”, aponta Emerson Castro.

Ele alerta que da mesma forma que o treinamento visual envolve técnicas refinadas, há outras bastante simplórias e até questionáveis. Sem contar que há quem confunda a forma de avaliar o desempenho dos atletas, caso de profissionais que afirmam que conseguiram melhorar e muito a performance de determinado jogador depois que receitou a ele o uso de lentes de contato. “É preciso muito cuidado para evitar simplismos. O grande desafio quando se fala em treinamento visual é provar a eficácia de qualquer método”, aponta. E sem comprovação científica, fica difícil de ter investimentos para pesquisa, ao menos no Brasil.

Em artigo publicado na revista Psychologist, o psicólogo Mark Williams, da Universidade John Moores, de Liverpool (Inglaterra), comenta que depois de anos de prática, os especialistas tanto em esporte como em outras tarefas, desenvolvem estruturas de conhecimento sofisticadas que lhes permite codificar, recuperar e processar informações de forma eficiente e seletiva. Entre outras habilidades, os especialistas são capazes de reconhecer e lembrar de padrões de jogo de forma eficaz, utilizando antecipadamente as pistas de informação dos adversários, como as orientações posturais. Além disso, no artigo Williams também afirma que os veteranos são mais precisos do que os novatos ao prever possíveis situações durante os jogos.

Muita vezes, as dicas dos profissionais podem ajudar, e muito, quem pratica esportes a proteger os olhos. Isso vai desde orientar uma mãe que leva o filho pequeno à natação sobre a importância de usar os óculos na piscina, até quem faz atividades ao ar livre sobre a exposição aos raios ultravioletas. Quem gosta de vôlei de praia, por exemplo, tem de se proteger do sol e da areia. Há também os óculos coloridos que facilitam algumas atividades. “Para jogar golfe, a cor das lentes tem de ser âmbar, pois permite enxergar melhor a cor da grama. Outro exemplo são os óculos com filtros polarizados que permite faz com que o usuário não veja o reflexo da água e por isso é indicado para quem gosta de pescar”, diz Paulo Schor.

Um estudo divulgado em 2010 pelo neuropsicólogo Erik Matser, da Universidade de Maastricht, na Holanda, observou como os atletas de ponta agem e raciocinam e comparou o comportamento deles a esportistas novatos. Os pesquisadores concluíram que os jogadores ‘premium’ têm memória e raciocínio privilegiados, além – claro, de melhor coordenação motora. O levantamento apontou que esses atletas são duas vezes melhores do que uma pessoa comum no que diz respeito à memória e agilidade visual e que apenas uma em 1 milhão de pessoas tem desempenho tão acima da média nessas duas habilidades. A equipe do neuropsicólogo avaliou testes de raciocínio de jogadores do time inglês Chelsea e também de clubes profissionais da Holanda por 10 anos. Ao comparar os resultados dos convocados para a seleção holandesa aos dos não convocados, o desempenho dos primeiros foi melhor.

Outro estudo, feito pela Universidade de Aix-Marseille, na França, aponta que a memória de jogadores experientes é mais ágil do que a dos iniciantes. Para o levantamento, foi solicitado a um grupo de atletas que decorassem sequências de imagens e palavras e, em seguida, completassem as lacunas criadas pelos cientistas. Os novatos demoravam mais e respondiam, em média, em 2,155 segundos. Já os profissionais faziam a mesma tarefa em 2,034 segundos. Isso, num campo ou numa quadra, pode significar muito.

Em dezembro de 2013, o Laboratório de Bioengenharia Ocular do departamento de oftalmologia da Unifesp promoveu o evento “Otimizando o desempenho de atletas: Visando preparação para Copa do Mundo – 2014, Jogos Olímpicos e Paraolímpicos – 2016” com o objetivo de discutir e preparar-se para os próximos eventos esportivos que acontecerão no Brasil. O encontro foi voltado a educadores físicos, psicólogos do esporte, fisioterapeutas e interessados na área de ciências do movimento humano.

Durante uma semana houve aulas práticas, teóricas e workshops em que os participantes não apenas discutiram as novas tecnologias disponíveis para pesquisas na área de processos motores e perceptuais de seres humanos, mas também ampliaram as discussões para possíveis aplicações práticas dessas tecnologias no desempenho esportivo. As atividades incluíram discussões teóricas a respeito do funcionamento de processos visuais, perceptuais e cognitivos, até ferramentas, métodos e técnicas que podem ser aplicados na tentativa de aprimorar aspectos do treinamento e aprendizagem de atletas.


Autora: Christye Cantero



(Publicado originalmente em Universo Visual)

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