São três irmãs. As três são cegas. Unidas por esta peripécia incomum do destino, viveram toda a sua vida cantando e tocando ganzá em troca de esmolas, nas cidades e feiras do nordeste do Brasil.
A pessoa é para o que nasce conta a história de Regina, Maria e Conceição, cantadoras de coco em Campina Grande. Paixão, crime, destino, música, fama. Tudo está envolvido nesse filme, cujo exercício de linguagem subverte a noção do que possa ser um documentário.
Poucas pessoas dedicam atualmente tanto tempo e energia a um projeto como fez o diretor Roberto Berliner com este filme - um dos curta-metragens mais premiados do país (inicialmente com apenas 6 minutos, que você poderá conferir ao final deste artigo), cuidadosamente transformado em longa, em um processo que levou 3 anos para ser concluído.
Em 1997, durante as filmagens da série de TV "Som da Rua", sobre músicos anônimos, o diretor Roberto Berliner conheceu as irmãs que, na época, já não cantavam mais nas ruas nem possuíam mais os ganzás, sem os quais não se sentiam à vontade para cantar. Enquanto a produção providenciava novos instrumentos, a equipe teve oportunidade de conversar longamente com as três. A filmagem para o programa foi realizada, mas Roberto deixou o set tão impressionado com o que viu e ouviu que decidiu que as três ceguinhas seriam o tema de seu próximo filme.
Alguns meses depois Roberto Berliner retornou ao Nordeste com o roteirista Maurício Lissovsky e uma câmera digital, para uma série entrevistas que serviriam de base para elaboração do roteiro. Com o apoio do Ministério da Cultura, este material de pesquisa serviu de base para a edição de um curta-metragem, que serviria ainda como laboratório de linguagem para uma obra de maior fôlego.
O filme acompanha os afazeres cotidianos destas mulheres e revela suas curiosas estratégias de sobrevivência, da qual participam parentes e vizinhos. Acompanha também, numa reviravolta inesperada, o efeito do cinema na vida destas mulheres, transformando-as em celebridades.
Um filme em que diretor e personagens confrontam-se com os laços que surgem entre eles, revelando a sedução e os riscos do ofício de documentarista.
Eis o documentário original: